Ao se examinar mais profundamente as relações entre Estado e classe trabalhadora, assim como as relações daquele e a população, procurou-se compreender como se estabelece a conexão que os liga diante das normas, dos símbolos e dos valores estatais que o primeiro governo de Getúlio Vargas afirmou em sua propaganda.
Desde o momento em que Getúlio Vargas se lança à candidatura presidencial, verifica-se o apoio popular à sua candidatura como sinal de protesto e a vitória nas urnas não é obtida. A tomada do poder é fruto de um golpe político-militar que usou o exército e a população em geral para assegurá-lo. O feito obteve amparo na propaganda que exteriorizou os símbolos e os valores da política do Governo de Getúlio Vargas.
A ideia do Governo Vargas era libertar a classe trabalhadora do domínio, visando enfraquecer o domínio dos fazendeiros e dos industriais. Consequentemente, a relação entre Estado e classe trabalhadora a partir desses ideais estabeleceu-se pela concordância do discurso e pela re-elaboração desses ideais em proveito da própria classe, individualmente.
A propaganda do Governo Central criou, portanto, mecanismos para que tanto a população, quanto a classe trabalhadora, buscassem a satisfação de seus interesses individuais.
A relação entre Estado e população era representada pela cobrança da parte da riqueza do país que tocaria a cada um do povo individualmente ante a conversão das mensagens e dos símbolos produzidos pelos propagandistas do regime e, cujas mensagens eram apropriadas pela população por meio de valores, conceitos, ideias, crenças da própria cultura política popular.
A população, portanto, criava um novo discurso para fazer valer a sua vontade e os seus interesses, além disso, a população exaltava os feitos de Getúlio Vargas para obter resultados. Ou seja, conseguir um emprego, conseguir uma promoção, etc.
Ao fazer uso da propaganda, dos símbolos, das normas que o Estado criava com finalidades sociais, os trabalhadores e a população faziam suas próprias avaliações e agiam segundo suas próprias convicções, cobrando do Estado a concretude dos direitos, mas, ao mesmo tempo, legitimando a atuação do Governo de Getúlio Vargas.
O círculo das relações entre Estado, classe trabalhadora e população em geral sustentava-se na legitimação dos atos de governo e na estratégia de cobranças que possibilitavam a efetiva busca da satisfação dos direitos que entendiam ser devido em face das regras, dos símbolos, dos valores que a propaganda e as normas do Governo de Getúlio Vargas estipulava.
Havia para a população e para a classe trabalhadora alternativas para superar as dificuldades do próprio regime. A sabedoria popular quanto a aceitação o governo, o próprio consenso da população e grupos sociais, em especial a classe trabalhadora, e a constante busca pela satisfação de interesses individuais incrementou as relações sob exame e permitiu a criação da cultura política, que de forma velada apresentava alguma resistência ao regime instituído, em face das aspirações e dos interesses próprios da sociedade política, o que para o Governo Central representou o reconhecimento de que não possuía o apoio integral da população que tanto esperava possuir.